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About dead lover's twisted heart
Se o rock dos anos 50 era algo tosco e moveu a juventude dos anos 50, talvez hoje em dia alguém possa dizer que não é possível o Rock and Roll como antigamente. No entanto, o gênero tornou-se muito bem sucedido no mercado do mundo inteiro. No cenário um tanto caótico do mundo, em que um presidente norte-americano parece ter seguido o conselho de Che Guevara e criado muitos Vietnãs (Afeganistão, Iraque, Coréia do Norte), emerge a banda belorizontina Dead Lover´s Twisted Heart, mostrando vitalidade com seu Folk-Rock Indie. Fazendo da possível precariedade um diferencial e uma possível demonstração de ligação com as raízes do gênero musical ao qual se filiam em canções como "Hey Babe (Have You Ever Been in Hell?)" e "All Night Long", as músicas fazem apelos primais & tribais ao desejo e à vontade de p(h)oder. A banda demonstra um transbordamento nietzschiano de vida. Hey Babe faz uma descrição do inferno sentimental pelo qual a sua amada nunca passou, tal qual um Dante clamando por sua Beatriz. All Night Long faz a apologia dos desejos do eu profundo (Kant com Sade), além do elogio do impulso instintivo de posse mais primitivo e brutal. E se há algo de que existe efetivamente posse é o domínio que essa banda exibe do estilo folk-rock. Há todo um discurso amoroso trágico à la Nelson Gonçalves que parece ter sido vertido em inglês. Se há quem diga que a história da música popular é um amontoar de clichês, vale a pena notar como a Dead Lover´s não soa clichê como soavam Engenheiros do Havaí e Guns and Roses quando regravavam iê-iê-iê italiano e Bob Dylan, fazendo referência aos anos 60 que, essa sim, faz jus ao termo clichê no pior sentido: uma linguagem desgastada. As guitarras da Dead Lover´s soam emocionadas, selvagens e faiscantes, nunca chupadas dos Rolling Stones ou de algum bluesman de antes. A Dead Lover´s harmoniosamente arranjou uma ligação entre os nervos e as cordas de aço, entre o desejo de morte e de dor e os Eagles do Death Metal. Os amores de Erasmo (Carlos) aproximam-se das loucuras de Erasmo de Roterdã, uma vez colocados sob o império de David Bowie & Lou Reed. Referências literárias (Mark Twain) misturam-se a outras musicais (Franz Ferdinand) e em diálogo com outras artes (Laerte e Angeli). Deixando um pouco de lado os arroubos de rebeldia, desejo e melancolia, o bom humor fez uma aparição picaresca em Huckleberry Finn. Os dramas são levados a um ápice em No More Dramas: o drama musical iluminista dos tempos de Beethoven não tem como sobreviver na violência de um mundo em que a história da burguesia fundiu com a humanidade; todas as bandeiras estão em frangalhos e os dramas foram levados ao extremo para serem destruídos. A destruição é a verdadeira Beatriz dos Amantes Mortos de Coração Balançado. Eles se assentam sobre todas as ruínas de um mundo superaquecido, tarde na História, mas cantam, dançando de alegria entre restolhos e relíquias para rasgar. Lúcio Emílio Júnior.